Em maio de 2018 foi sancionada uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nãcional (LDB), e publicada no Diário Oficial da União em 17 de Maio de 2018. A Lei 13.666 incluiu um novo parágrafo à LDB dizendo: "A educação alimentar e nutricional será incluída entre os temas transversais ...” colocando então a abordagem do tema alimentação dentro de uma perspectiva mais ampla, interdisciplinar no sistema de educação do Brasil.
Como profissional de saúde, nutricionista, educadora em diabetes, brasileira eu vejo isso como um avanço na educação e saúde, considero importante esse amadurecimento da percepção de que há a necessidade de inserir a abordagem da alimentação nos temas transversais. A alimentação saudável pode sim ser compreendida, discutida, aprendida e vivenciada na escola interdisciplinarmente de maneira prática e aplicável na escola e comunidade. Sei que, de alguma maneira, um pouco disso já vem sendo feito em escolas por iniciativas espontâneas das equipes escolares, mas reconhecer esse tema como importante integrante da educação, e desenvolvê-lo com um planejamento estruturado, tornarão os resultados mais efetivos.
Materiais de apoio para professores(as) "vitaminarem" essa missão.
Para colaborar com a viabilização dessa designação pedagógica, em 2018, foram lançados os "Cadernos de Atividades – Promoção da Alimentação Adequada e Saudável" (um para Educação Infantil e o outro para ensino fundamental I) desenvolvidos pelo Ministério da Saúde e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Um material educativo destinado aos(às) professores(as) e aos (às) profissionais da saúde do PSE (Programa Saúde na Escola), com objetivo de subsidiar a discussão sobre alimentação adequada e saudável no ambiente escolar, estabelecendo relações com diferentes aspectos dos parâmetros curriculares e valorizando a transversalidade do tema alimentação.
Os caderno contextualizam e sugerem propostas de dinâmicas e abordagens; para que os professores sejam auxiliados e encontrem informações adequadas e atualizadas,e inspiração para abordagens e práticas pedagógicas condizentes.
Muitos questionam: por que não nutricionistas para darem aulas sobre alimentação na escola?
Como diz a lei 13.666 acrescida a LDB “9º. A educação alimentar e nutricional será incluída entre os temas transversais de que se trata o caput (art 26).” (que estabelece os conteúdos e os temas transversais como: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, e agora, educação alimentar e nutricional). Faz-se importante a compreensão de que a educação alimentar NÃO se tornou uma uma nova disciplina, e sim, agora com mais clareza, tema transversal, que antes era abordado aleatoriamente.
Temas transversais são ministrados pelos professores(as) nas disciplinas que já integram o currículo escolar. Esse novo tema transversal vem com a finalidade de contextualizar a alimentação e nutrição à saúde, direito, cidadania, ecologia, economia, geografia, história, biologia, biodiversidade, comportamento, sociologia, cultura e regionalidade e tudo mais que nos cerca, nos faz refletir e agir, e será abordado por professores em sala de aula.
Não se trata de aulas técnicas de nutrição na escola e sim da incorporação e discussão do tema alimentação e nutrição entre as disciplinas e atividades promovidas pela escola. A ministração das aulas não é um trabalho atribuído como atividade privativa do nutricionista, como por exemplo o ensino das matérias profissionais dos cursos de graduação em nutrição e ensino das disciplinas de nutrição e alimentação nos cursos de graduação da área de saúde e outras afins (segundo a Lei nº 8.234, de 17/08/1991 que regulamenta a profissão de Nutricionista e determina outras providências).
A dúvida é gerada porque essa mesma lei define claramente que: Parágrafo único.
"É obrigatória a participação de nutricionistas em equipes multidisciplinares, criadas por entidades públicas ou particulares e destinadas a planejar, coordenar, supervisionar, implementar, executar e avaliar políticas, programas, cursos nos diversos níveis, pesquisas ou eventos de qualquer natureza, direta ou indiretamente relacionados com alimentação e nutrição, bem como elaborar e revisar legislação e códigos próprios desta área. "
Ou seja, nutricionistas podem, devem, participar desse processo de planejamento e elaboração de programas que abordarão alimentação e nutrição na escola auxiliando os professores em suas propostas pedagógicas. Mas os responsáveis pela condução dos trabalhos, são os(as) professores(as).
Para ser melhor do que você esperava...
As dicas que posso dar aos meus queridos amigos professores para que todo seu trabalho e esforço nos projetos e planos de aula possam ser bem sucedidos e transformadores são:
-Quando for abordar temas de saúde, (e ciências em geral) tenha sempre em mente o que é fundamental consultar e usar as informações mais atualizadas disponíveis. A ciência apresenta constantemente atualizações de conceitos e usá-las fará toda diferença na qualidade da aula e aplicação prática.
Não corra o risco de passar informações equivocadas ou desatualizadas. Em especial ao abordar questões como: restrições alimentares, alergias e intolerâncias, sobrepeso e obesidade, diabetes, dislipidemias e etc.
*Consulte os materiais mais atualizados do Ministério da Saúde, Organização Mundial de Saúde (OMS), Conselhos Regionais e Federais de Nutricionistas, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e demais entidades científicas relacionadas ao tema que você desejar abordar.
Alguns sites que serão úteis também:
-Se tiver alguma dúvida, peça ajuda, se possível, para nutricionistas familiarizados com o tema que você deseja trabalhar. Com informação e compreensão você terá mais segurança para produzir e conduzir atividades, distinguir conteúdos corretos e coerentes, e aplicá-los de maneira inclusiva, integrando TODOS os alunos nas discussões e vivências, como requerido nos demais temas transversais.
-Não trate a alimentação, os alimentos, e as condições de saúde como algo teórico ou distante. Aproxime, envolva, vivencie e compartilhe com os alunos as possibilidades e experiências relacionadas aos temas discutidos. Será muito mais gostoso e proveitoso ;-)
- e Adapte as propostas de atividades às necessidades do seu grupo de alunos. Personalize a abordagens. Assim todos serão incluídos e atendidos e a proposta fará mais sentido para eles.
As atividades dos Cadernos de Atividades: Promoção da Alimentação Adequada e Saudável, do Ministério da Saúde, podem ser vivenciadas por TODOS os alunos, quando bem planejadas e adaptadas. No entanto será ainda mais enriquecedor incluir na abordagem informações e experiências relacionadas as condições de saúde diferenciadas que o grupo apresente ou que julgue interessante e oportuno.
Abordar alimentação na escola e diabetes, por exemplo, te deixa inseguro(a)?
Sei que o tema diabetes na escola, e na sociedade, ainda é cercado de mitos, falta de informação e insegurança diante do desconhecido e do receio de que o aluno passe mal e o(a) professor(a) seja responsabilizado(a). A falta de informação promove equívocos e perdem-se oportunidades de aprender, conviver e integrar os alunos. Isso não acontece apenas com a condição diabetes, mas com diversas outras , mas ...
Busque transformar os desafios em oportunidade de aprendizagem e integração entre todos. Peça auxilio à algum(a) educador(a) em diabetes sempre que desejar e sentir que precisa compreender melhor algum aspecto do tema.
Só o fato de não reproduzir mitos ou compreender e conseguir explicar aos outros o que é o diabetes tipo 1 e como é possível, e necessário, estar seguro e apoiado na escola. Isso realmente seria uma revolução e eu acredito que é possível fazê-la ;-)
Para a equipe escolar aprender mais sobre diabetes, e abordar o tema com os alunos, o kit educativo KiDS (Kids and Diabetes in Schools -Crianças e Diabetes nas Escolas) da Federação Internacional de Diabetes (IDF) é uma opção de recurso didático apropriada e pode ser utilizado de maneira interdisciplinar, aliando o conhecimento sobre cuidados e manutenção da saúde, não apenas quando se tem diabetes, e o incentivo à práticas saudáveis para prevenção de complicações de saúde relacionadas a alimentação e sedentarismo, o que vale para todos.
Vale a pena conhecer e utilizar o kit educativo ;-)
O material contém 4 Kits destinados para: equipe escolar, aluno com diabetes, familiares de alunos com diabetes e familiares em geral. Pode ser baixado gratuitamente AQUI. Atualmente há iniciativas de treinamentos oferecidos por educadores em diabetes para equipes escolares que desejarem aprender e aplicar o conhecimento adquirido ;-) SAIBA MAIS
Deixarei aqui disponível para que você baixe e conheça os CADERNOS DE ATIVIDADES do Ministério da Saúde que mencionei, bem como a última edição do Guia Alimentar Para a População Brasileira e os materiais educativos do Programa KiDS (Criança e Diabetes nas Escolas).
Caso deseje mais algum material de auxílio para abordar alimentação na escola, deixe seu comentário e farei o possível para ajudar.
Acredito no potencial transformador da educação e da compreensão da alimentação e saúde para cada indivíduo.
Espero ter ajudado.
Bom trabalho ;-)
Ah!Por favor, me conte o que achou dos materiais e como você pretende encarar essa missão. Ou o que você tem feito? como tem sido o trabalho?
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