Em uma coluna publicada no site da Sociedade Brasileira de Diabetes, há uma apresentação desse tema que acredito nos servir de reflexão oportuna na convivência com jovens com DM1.
No texto são apresentados resultados de dois estudos que, de certa forma, buscaram responder a essa questão, “O que motiva ou desmotiva quem tem diabetes?”. O interessante sobre essas pesquisas é o fato de serem, de certa forma, complementares. A primeira delas se dedicou a pesquisar a questão com 31 adolescentes (13 a 18 anos) com diabetes tipo 1, e teve como objetivo principal verificar a importância de pessoas próximas (familiares, pares/amigos e profissionais de saúde).(1) A segunda foi feita com 52 adultos/idosos com diabetes, doença cardíaca ou pulmonar.(2)
Um dos interessantes resultados do estudo com adolescentes foi em relação à percepção menos negativa do que se esperava quanto a viver com diabetes, ilustrado por alguns relatos de o diabetes ter se tornado algo natural. Esses mesmos participantes revelam que o diabetes teve grande influência sobre suas vidas, incluindo o desenvolvimento de maturidade precoce, que moldou até mesmo quem são. Dizem, ainda, que uma das coisas mais difíceis de aceitar é não existir cura para o diabetes.
Nesse estudo, fica clara a importância dos pais, que podem tanto ter papel motivador quanto inibidor. Ao mesmo tempo que o relevante apoio dos pais é amplamente reconhecido, a maioria diz também se sentir superprotegida, e que os pais têm comportamento muito controlador, provocando, além de estresse, a sensação de que não acham os filhos capazes de assumir seus autocuidados. Como consequência, há adolescentes que admitem medir a glicemia menos vez do que deveriam e deixar de medi-la quando acreditam estar alta ou baixa, a fim de evitar conflitos.
Em relação aos amigos, os adolescentes os consideram apoiadores, visto que se interessam e gostam de participar e ajudar nos autocuidados. Admitem, ainda, que é mais fácil contar sobre o diabetes aos amigos, do que esconder. Ao mesmo tempo, relatam que existem pares, geralmente mais distantes, com comportamento intrusivo: perguntam o valor da glicemia, questionam se o alimento escolhido é adequado, se fazer o teste dói, etc.
A respeito da relação com os profissionais de saúde, muitos dizem se sentir tratados como uma doença e não como uma pessoa. Entre as sugestões que fazem a esses profissionais destacam-se: trata-los de acordo com a faixa etária (não como se ainda fossem crianças ou incompetentes); no lugar de fazer ameaças, tentar ajuda-los; e vê-los e se interessarem por eles como pessoas antes do diabetes.
Será que isso não acontece na escola também, mesmo que inconscientemente?
A possibilidade de fácil acesso e diálogo foram amplamente destacadas. Os jovens gostam de poder trocar e-mails com o médico. Essa comunicação facilitada e interesse por parte do profissional de saúde parece estreitar laços e motivar o adolescente a seguir as recomendações e se dedicar aos autocuidados.
Da mesma forma que os adolescentes, a população de mais idade também admite preocupação em não desapontar os profissionais de saúde (um fator motivador). Nesse segundo estudo, mais uma vez, aparece a família como recurso e fator mais motivador, seja por atuar como fonte de apoio, seja pelo estímulo intrínseco para se cuidar e, assim, estar por mais tempo/anos com a família. Destacam-se, também, a valorização da saúde e da independência por essa população. Apesar dos relatos sobre o medo de ter complicações, de sentir dor, de morrer cedo e mesmo de ter que se aplicar insulina aparecerem, o medo maior parece ser o de perder a independência.
Portanto, há fatores que motivam todas as idades e outros que são idade-específicos. Sabendo disso, podemos refletir sobre atitudes e estratégias que podem levar a resultados positivos, motivando nossos caros familiares, amigos e/ou pacientes e alunos.
Complementando esse texto, da coluna da SBD, eu gostaria apenas de salientar que encorajar a autonomia no autocuidado do aluno com DM1 é algo que a equipe escolar pode se preparar para fazer de maneira eficaz e natural, se informando com fontes atualizadas e entendendo a realidade do aluno. A escola em sua essência compartilha saberes e responsabilidades e quando inclui em seu repertório de abordagens as vivências, saberes e responsabilidades fundamentais para o aluno, traz vida e prática ao currículo, as coisas se tornam mais naturais, mais possíveis e o ambiente escolar torna-se de apoio e motivação também.
Espero que consigamos ter a sensibilidade de compreender essa realidade e auxiliarmos alunos a não serem vistos como "a doença" e sim com a pessoa capaz de aprender e conviver com a condição de se cuidar em qualquer lugar.
Fontes:
1. Carroll A.E. and Marrero D.G. The Role of Significant Others in Adolescent Diabetes, A Qualitative Study. The Diabetes Educator 2006;32(2):243-252. 2. Jowsey T., et al. What motivates Australian health service users with chronic illness to engage in self-management behaviour? Health Expectations 2011;17(2):267-77
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